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Isoladas em hospital na pandemia, crianças com câncer se reaproximam dos pais com videochamadas

Amigos de luta

Isoladas em hospital na pandemia, crianças com câncer se reaproximam dos pais com videochamadas

Viver sob cuidados, distanciamento e precauções já é algo rotineiro para as crianças que lutam contra o câncer no Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), em Sorocaba (SP). Mas, com a pandemia de coronavírus, as restrições estão ainda mais rígidas. Ao G1, funcionários e familiares de pacientes que fazem tratamento no local relataram como a nova rotina afetou os pequenos.

A psicóloga do hospital Evelin Araújo explica que a pandemia acabou mudando a rotina das crianças, inclusive nas visitas, que muitas passaram a ser por videochamadas.

Apesar disso, de acordo com ela, a compreensão dos pequenos na hora de lidar com a situação não dificultou as adaptações."Várias coisas tiveram que mudar. O contato físico sempre foi muito próximo, de brincar, estar junto. Então, tivemos que mudar tudo isso sem magoar as crianças", conta."Nós buscamos mostrar de uma forma lúdica que usar máscara é importante e que temos que tomar mais cuidado agora. Mas eles estão levando de uma forma leve, acham super engraçado ter que cumprimentar com o pé".

Visitas canceladas

Uma das mudanças mais radicais, segundo a psicóloga, foi a suspensão das visitas. "Doutores palhaços", recreações com voluntários, familiares, amigos: tudo precisou ser cancelado.

Por isso, a saída foi se adaptar à mudança. "Eles perguntam muito quando tudo vai voltar e nós tentamos explicar que não temos uma previsão, infelizmente", continua Evelin.

A tecnologia, mais uma vez, foi uma grande aliada. O hospital disponibilizou acesso ao Wi-Fi para os pacientes realizarem chamadas de vídeo com familiares e amigos, já que os pequenos não podem mais receber visitas presenciais.

Foi o caso do paciente Matheus Camargo, de 15 anos, que está internado no Gpaci em tratamento. Em um vídeo enviado ao G1, ele conversa com a tia por vídeo chamada para poder matar um pouco a saudade (veja abaixo).

"Tivemos que ir nos ajustando de uma forma mais humanizada possível e oferecendo todo o suporte psicológico para eles. A solução para matar a saudade são as chamadas por vídeo com os colegas e familiares", explica a psicóloga.

Evelin ressalta que, como a vida das crianças que têm câncer é cheia de cuidados normalmente, a adaptação acabou sendo mais tranquila diante da pandemia.

"De certa forma, os pacientes de tratamento oncológico já vivem em um certo isolamento pela falta de imunidade. Então, às vezes eles já até usam máscaras, ficam longe de multidões e tudo mais", comenta

Amigos de luta

Paciente do Gpaci desde muito pequena, Myrella Romancini tem 10 anos e é portadora de uma doença rara chamada Beckwith-Wiedemann, que altera o padrão de crescimento de determinados órgãos do corpo.

Apesar da pouca idade, a pequena guerreira já possui uma história no hospital. Atualmente, Myrella não está mais em internação, porém, ainda realiza consultas regulares e faz tratamento.

A mãe dela, Aline Romancini, conta ao G1 que a filha sente muita falta dos amigos que fez no hospital. Com a pandemia, a saudade ficou maior ainda.

"Ela tem várias amiguinhas em tratamento e sente muita falta de vê-las. O que vem salvando são as chamadas de vídeo, mas é bem difícil. Tem um amiguinho que já tinha dois meses que ela não via, eles se reencontraram esses dias e foi só alegria", explica.

A saudade das atividades fornecidas pelo hospital também é grande. Aline disse que a filha sente muita falta das recreações feitas por voluntários dentro do Gpaci, como aulas de desenho e brincadeiras.

"Tinha aulas de pintura e desenho, várias atividades recreativas. Mas o apoio do hospital continua o mesmo e eles fornecem toda a segurança que o momento pede".

Cuidados técnicos

O médico infectologista Eduardo Leite Crocco, de 43 anos, explica ao G1 todas as medidas de proteção tomadas pelo hospital para proteger as crianças durante os tratamentos e consultas.

Segundo Crocco, além dos cuidados básicos, como a disponibilização de álcool em gel nos ambientes, o uso de máscaras e o distanciamento social, o Gpaci também está agendando consultas em horários espaçados.

"Os intervalos entre as consultas estão espaçados a cada 30 ou 60 minutos para ninguém ficar esperando. As cirurgias foram canceladas e somente procedimentos urgentes são realizados. Pacientes com sintomas respiratórios são atendidos separadamente", lista.

O infectologista reforça também que os funcionários do hospital foram treinados quanto às medidas de prevenção e que, felizmente, o Gpaci não possui casos confirmados de coronavírus.

"Fizemos treinamentos com os colaboradores para medidas de prevenção e treinamento de utilização dos EPIs. A nossa demanda de casos suspeitos de coronavírus foi muito baixa até o momento. De março até junho, menos de 15 crianças tiveram suspeitas e nenhum caso foi confirmado", completa